Probióticos em crianças menores de 6 meses: pode ou não pode?

Probióticos em crianças menores de 6 meses: pode ou não pode?

A resposta é: Depende. Você, caro leitor, deve estar se perguntando: “Depende do que?” Depende basicamente da espécie de probiótico prescrita e da manifestação clínica que se pretende amenizar/tratar com o probiótico. Quer saber mais? Então me acompanhe nesse texto que vou te contar as últimas novidades que a ciência tem sobre esse tema e que te ajudarão a esclarecer as suas dúvidas. 

Probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Atualmente, existem mais de 20 espécies de probióticas disponíveis do mercado, como por exemplo Lactobacillus reuteri, Lactobacillus rhamnosus, Bifidobacterium infantis. Essas espécies podem promover benefícios semelhantes ao organismo, como a fermentação das fibras dietéticas e exclusão competitiva com bactérias patogênicas; como também promover benefícios específicos da sua espécie. Dentre os efeitos específicos de algumas espécies de probióticos estão a melhora da ação da insulina e a melhora da comunicação entre o intestino e o cérebro que auxilia no mecanismo de fome e saciedade e nos ajuda a controlar o peso.  

Então aqui está o motivo pela qual minha resposta foi depende. Se cada espécie tem efeitos distintos, diferentes prescrições de probióticos nem sempre produzirão o mesmo efeito, concorda? Então antes de escolhermos qual espécie, devemos primeiro conhecer o sintoma ou manifestação clínica que queremos combater. 

Guia de Probióticos

Em crianças menores de seis meses é comum usar probióticos para amenizar diarreia, cólicas, gastroenterites, dores abdominais, alergias e infecções do trato respiratório. Em revisão recente feita pela Associação Pediátrica Europeia (2017), o uso de diversos probióticos para estes sintomas foram analisados. Essa análise resultou no Guia de Probióticos para prática clínica em pediatria (2018), que sugere o seguinte: 

Lactobacillus rhamnosus deve ser prescrito para auxiliar no combate a infecções do trato respiratório, diarreia e gastroenterites. Há evidências fracas para o uso de Lactobacillus reuteri e Bifidobacterium infantis nestes casos. Para todas as outras espécies de probióticos as evidências ainda são inconsistentes. Para alergia atópica, ainda não há evidências consistentes que indicam que a prescrição de alguma espécie de probióticos possa auxiliar no tratamento.  

Importante: Embora este guia europeu não recomende a prescrição de outras espécies, isso não significa dizer que as outras não podem ser prescritas ou que não irão promover benefício à criança. As evidências são fracas porque poucos estudos usaram outras espécies para avaliar o tratamento dessas manifestações ou porque há resultados contraditórios, o que, no momento, dificulta estabelecer uma recomendação cientificamente comprovada.  

Prescrição consciente

Também vale dizer que a prescrição de qualquer espécie de probiótico é segura em qualquer idade, exceto quando o paciente está com o sistema imunológico comprometido. Se todos são seguros, porque fazer um Guia? Porque os cientistas também se preocupam com a prescrição racional. Prescrever só porque não irá prejudicar a criança não é motivo suficiente. A prescrição de probiótico deve ser elaborada, primordialmente, com base na sua ação frente ao quadro clínico.  

O uso de probióticos em crianças menores de um ano ainda requer muitos estudos. A maioria dos artigos científicos publicados indica que há muitos benefícios em relação ao uso de outras espécies de probióticos também. Por isso, o conhecimento da prática clínica e o bom senso do profissional de saúde também deve ser levado em conta no momento da prescrição. Converse com a equipe médica e o nutricionista que acompanha seu filho. A experiência da equipe médica aliada à observação cuidadosa da criança e à uma prescrição consciente é o segredo para uma prescrição de probióticos de sucesso! 

Gostou? Espero que este texto tenha esclarecido suas dúvidas. Quer saber mais? Leia também Probióticos: muito mais do que saúde intestinal.

Fernanda Drummond 

Nutricionista – PhD em Alimentos e Nutrição

Referência: 

Hojsak, I. , Fabiano, V. , Pop, T. L., Goulet, O. , Zuccotti, G. V., Çokuğraş, F. C., Pettoello‐Mantovani, M. and Kolaček, S. (2018), Guidance on the use of probiotics in clinical practice in children with selected clinical conditions and in specific vulnerable groups. Acta Paediatr, 107: 927-937. doi:10.1111/apa.14270

 

 

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